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O frio intenso parece rasgar sua alma a cada furiosa rajada. A cada sopro, uma nova agonia e a cada agonia, mais um pedido sincero de redenção. O sacrifício pelo perdão e o remorso contínuo só podem ser explicados por aqueles que possuem o passado marcado por vexames emocionais, oportunidades perdidas e objetivos impossíveis que, infelizmente, jamais serão realizados.
Muitos podem tentar viver pelos outros tudo o que desejariam para si mesmos. Optar e escolher seguir o seu próprio caminho nos leva a uma estrada árdua que poucos possuem coragem para trilhar. Essa década provavelmente foi a mais inútil, culturalmente falando. Nenhuma explosão, nenhum hit sincero, nenhuma criação que será lembrada daqui a quarenta e poucos anos. Certamente nossa geração desistiu de lutar, por isso sempre surgem falsos poetas – como eu – buscando alguma forma de reinventar o mundo sem perceber que estão apenas repetindo o que muitos já fizeram milhões de vezes antes.
Tudo é muito fácil, simples e rápido. Tudo o que buscamos está sempre a um palmo de distância. Nunca foi tão fácil conseguir informação. Talvez ser burro seja um privilégio hoje em dia. Férias, Copa do Mundo, trabalho! Sempre a mesma desculpa para que passe mais um dia e nada aconteça. A vida é monótona e previsível quando a infância e a adolescência ficam para trás. Seguir o fluxo é muito mais simples. A depressão, certamente, será uma das catástrofes do século XXI.
Sentir a recepção de quem lê aquilo que escrevemos é a única arma que os escritores têm a seu favor. Nunca ninguém saberá quais as reais intenções que foram ao papel. Para quem, quando e onde? A verdade? Mentira? Realmente aconteceu? Com ele, comigo, conosco? A imaginação vai muito além do que poderíamos nos permitir e, algumas vezes, sequer acreditamos naquilo que acabamos de compor. Mentimos fingindo a verdade, amamos platonicamente, acusamos omitindo, odiamos sem precisar, confessamos sem demonstrar, demonstramos sem confessar, fingimos sem nos preocupar, nos preocupamos sem motivo, brincamos com o que não conhecemos, expressamos sem emoção, emocionamos sem experiência, lutamos pelo que nunca ninguém acreditou, acreditamos em algo pelo qual nunca lutaremos. Cabe a você entender o que buscamos declarar. Esse parágrafo é apenas mais um esdrúxulo exemplo do que estou afirmando.
Lembro-me que ainda preciso terminar essa página. Aumento o volume do som enquanto meu querido cão malhado lança com cuidado sua pata sobre meu braço esquerdo. Olha-me com um ar de amargura, se expressa, chantageia e deseja atenção. Paro um segundo para lhe direcionar um pouco de afeto. E mais uma vez uma descrição idiota como essa, rende-me mais algumas linhas.
Podemos ser muito espertos, mas completamente estúpidos. Egocentrismo é tudo e nada ao mesmo tempo. No final, apenas você poderá saber o que realmente almeja alcançar. Tenha bom senso. Tenha senso do ridículo. Ria de si mesmo. Ria dos outros. Mostre ao mundo que ninguém é melhor do que você, mesmo tendo a certeza que você não vale mais do que o cheiro da merda que seu vizinho acabou de pisar.