segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Enquanto você dormia

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Não saberia explicar o que ele fazia ali parado durante tanto tempo, imóvel e olhando para o mesmo lugar há horas. Também não poderia explicar o que fazia eu, aqui, imóvel, olhando para ele há um bom tempo. Alguma razão para estes atos deveria existir, para ele ou para mim, só que ainda não havíamos descoberto qual.

Um mendigo, sujo, fétido e, ao que parecia, extremamente louco e atento para o que estava acontecendo dentro de sua mente. Com um cobertor imundo nas mãos e apenas uma bermuda cobrindo o corpo, se divertia sozinho e ria do que somente ele poderia explicar. Já eu, um jovem “rico”, limpo, bem vestido e, ao que me lembrava, aparentemente sóbrio o bastante para não me entreter com tudo aquilo, perguntava-me o que estávamos realmente fazendo. Seria melhor parar um segundo para refletir se o louco era ele ou eu, afinal.

Quando levantei, atravessei o portão em passos lentos e me dirigi à rua. O chão estava coberto de lama e meus sapatos brancos, completamente sujos. No momento em que voltei os olhos a um ponto fixo a minha frente, senti um vulto se aproximar em um movimento extremamente rápido. Sem esforço algum já havia me jogado ao chão. Levantei-me como um raio, mas fui nocauteado na mesma intensidade. Estava tudo muito claro e por mais que abrisse os olhos, nada podia ver. Quando finalmente minha visão retornou, trouxe consigo uma dor incrivelmente forte em meu maxilar. Percebi que o sangue escorria por meus lábios, enquanto me arrastava pela lama tentando entender o que estava acontecendo. Não fazia a mínima idéia sobre o que havia me atingindo, mas somente um tolo não perceberia que as coisas já não andavam bem.

Enquanto meu estado de consciência voltava ao normal, pude ver que o mendigo, já não mais imóvel, era o meu algoz. Mais um impacto estrondoso em minhas costelas e deitei-me ao solo para gemer e cuspir o resto de sangue que, agora, me inundava a boca. Meu companheiro sorria como um inocente menino e possuía uma pequena faca nas mãos. Seus dentes eram de ouro e apesar do ato hostil, não senti raiva ou maldade em suas intenções, mas isso não fazia minha dor diminuir. Esforcei-me para tentar fugir, porém um olhar inóspito do inimigo me paralisou. Não havia nada nem ninguém, apenas uma força invisível que me impedia de mover até mesmo os dedos dos pés.

Com as costas no chão, senti os pingos da chuva começarem a cair. Ele se aproximou e se ajoelhou próximo ao meu tronco. Proferiu palavras que não podia entender e apunhalou meu estomago com a arma. A dor não veio, mas um pavor intenso dominou meus pensamentos. Seria esse o fim? Enquanto abria meu corpo e arrancava, um a um, meus órgãos, pensava nos amores que havia deixado para trás, nos amigos e familiares que jamais voltaria a ver e no tempo perdido em vão.

Meu coração já estava em suas mãos e minha vida já não me pertencia mais. Pingava e batia mesmo estando fora do corpo. Ele se levantou com o órgão em sua mão direita e, simplesmente, deixou os restos ali ao meu lado. Por que? Talvez para que antes da morte tivesse o prazer de entender que, apesar de tudo, por dentro, somos todos iguais. Apenas sangue e carne. Antes de ir embora, jogou seu cobertor sobre meu corpo e se despediu. Dobrou a esquina enquanto o temporal caía. “Adeus” foi a única palavra que realmente pude compreender.

Fazendo minhas últimas reflexões, minha visão ficava cada vez mais turva e escura. O sangue e as gotas da chuva davam-me uma leve sensação de bem estar. Não pensava mais em arrependimentos e, muito menos, no que poderia, um dia, ter feito. O último desejo era que pudesse ver seu rosto uma última vez. Tudo escureceu e me despedi do mundo pensando nela.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Talvez


Talvez faça sol ao amanhecer

Talvez não

A chuva pode continuar ainda por muito tempo

Mesmo que acabe me esquecendo de lhe dizer adeus


Talvez levante e não me lembre mais

Que tudo já não possui tanta importância assim

Talvez não

É justo fingir por quanto tempo?


Talvez não tenha mais tempo para acreditar

Que o engano, algumas vezes, se confunde com o pecado

Amor, paixão, luxúria?

Talvez não


Talvez não

Nunca lhe disseram até onde chegaria o seu limite?

E o quão difícil seria partir?

Lidar com o fracasso te deixou extremamente vulnerável


Seria injusto prever?


Talvez...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O mar tá aí pra peixe

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A chuva estava perto de cair, podia sentir o cheiro do molhado como já tivesse despencado. Meu dia se encontrava em um domingo entediante e sem ocupação alguma. Me sentia um pouco inútil naquele momento, pois não fazia nada por ninguém e nem por mim mesmo. A boa noticia que, ali estirado no meio do quarto, nem ligava para isso. Como de costume, em certas horas a solidão faz de você um grande estudioso de si mesmo. Há essas alturas eu já tinha doutorado nessa matéria. Meu único defeito era que eu não conseguia assumir metade dos meus erros.

Tocava “Fever Dog” no radio e eu cantava sozinho. Fiz uma pequena comparação com o Snoopy, na cena que ele fica em cima da casinha. Talvez fosse exatamente a posição que eu estava fazia uma hora. O calor sufocava toda vez que eu lembrava que estava quente, que ironia não, pensei comigo mesmo. Com uma musica, nada para fazer e sem vontade algum de escrever algo recorri a velhos pensamentos. Reflexão é algo incrível, até você reparar que aquele erro que tentou corrigir falhou algumas vezes. Bastou cinco minutos para mandar tudo para a puta que pariu e pensar em algo decente.

Aí me lembrei de uma noite interessante, que havia quase deletado da minha mente. Subia de madrugada, em uma daquelas noites difíceis, uma rua a caminho de casa. Seguia a passos lentos, e o sereno não estava lá ajudando muito na minha volta. De repente, em um daqueles latões de entulho, pula um mendigo negão, mas todo branco, sujo de pó branco. Arregalei o olho e fiquei imóvel, fixando o olhar na cara dele. Foi quando ele me disse:

- Argh! – Cuspiu no chão e reclamou - Ainda bem que a porra do Cal me aquece – disse em um tom de bêbado mais engraçado que já tinha escutado.

Eu ainda estava perplexo, não sabia o que dizer. Então ele olhou para minha cara e disse:

- Que foi meu chapa?! Nunca viu não?

- Um negão de beiço pequeno não! – respondi sem pensar muito.

Nós dois ficamos parados por volta de uns dois segundos, foi rápido e longo ao mesmo tempo, difícil de explicar. Então ele sorriu, faltando alguns dentes, e me deu um abraço. Eu apenas ri junto com ele, seu abraço foi de alegria, alguém havia dado atenção e feito ele rir. Tem pessoas que sofrem muitas carências nesses aspectos. Dei minha toca e um moleton que estava debaixo da minha blusa e fui embora.

Então levantei do chão e fui na varanda acender um cigarro. Domingo é como ser fuzilado, você sabe que no final você vai se fuder de qualquer jeito, e seguindo o pensamento, segunda então é a bala no cérebro. Que domingo entediante, pensei, olhando para uma lagartixa que, ali imóvel, me encarava...

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Simplesmente assim

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Estava sentada com as pernas cruzadas e o braço esquerdo apoiado sobre a mesa, com o garfo entre os dedos. Na mesa, um pequeno prato contendo uma porção de salada de frutas. Era linda, loira e possuía a pele clara como a neve. Apenas sua presença acabava deixando aquela, sem graça, praça de alimentação, no mínimo, muito mais interessante.

Vestia uma camiseta preta bastante feminina e uma calça jeans comum e extremamente simples, mas que a tornava ainda mais bela. O cabelo loiro e liso estava jogado para trás por sobre os ombros e deixava seu rosto único livre para que todos pudessem apreciar.

Duas pulseiras, uma em cada braço, a tornavam ainda mais elegante e um anel prateado no dedo anular de sua delicada mão direita entristecia todos a sua volta, pois agora sabiam que ela era uma mulher comprometida.

Como se nada pudesse interrompê-la, delicadamente continuava a comer e fazia pequenos intervalos para poder nos agraciar com um inesquecível e inocente sorriso, que, sem alguma real intenção, encantava todos que estavam ali presentes.

Assim que terminou, levantou cuidadosamente e andou em passos lentos para jogar seu prato fora. Voltou e, sorrindo, se despediu. Enquanto subia a passarela, podíamos observar a tatuagem que cintilava em sua cintura pelo pequeno espaço entre a camiseta e a calça, e o qual deixava sua macia pele à mostra. Enquanto continuava seu caminho, pude perceber que, sem expressar nenhum esforço para se destacar dentre os demais, todos paravam para observar que ela estava, mais uma vez, indo embora.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Toda rosa possui o seu espinho

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Costumam dizer que toda rosa possui o seu espinho. Talvez o da minha estivesse cravado no fundo do meu coração ou simplesmente nas entranhas de todo o meu orgulho. Às vezes tento parar para pensar no que não deu certo e não consigo entender onde foi que cometemos o primeiro erro.

Sorte que temos tempo para nos valorizar. Nem sempre a culpa por não ter dado certo é minha, sua ou deles. Muitas coisas acontecem a nossa volta de tantas formas diferentes que não é possível se esquivar de todos os pequenos problemas que, juntos, se tornam relativamente grandes.

Mas no fundo sabemos que poderíamos ter sido uma das melhores coisas que aconteceram em sua vida e a outra pessoa nem ao menos se dará conta disso. Tudo bem! A vida continua e sou realmente grato por pessoas apaixonantes surgirem a nossa volta a todo o momento. Alguns se esquecem que ainda há tempo para o romantismo ou simplesmente viver um grande amor apenas por uma noite.

Sabemos que pequenos eventos podem ser bastante significativos. Talvez voltar sozinho na estrada de madrugada, ouvindo um de seus discos favoritos e acompanhar o amanhecer enquanto dirige se torne uma das sensações mais valiosas em muito tempo. Nunca subestime a vida, pois o mais simples de tudo pode mesmo te surpreender.

Seria ótimo se o sol voltasse, aos poucos, a brilhar.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Frases II

“O mundo se transforma em um lugar muito melhor após o anoitecer.”

“Não importa o que deseje, você não poderia estar em melhores condições.”

“Apaixonei-me em uma fração de segundos, mas já estarei livre assim que ela dobrar a esquina.

“Por menor e menos significantes que sejam alguns momentos, a vida pode ser muito melhor do que esperamos dela.

“Tentei ser sincero comigo mesmo e percebi que nem com a minha própria pessoa tenho facilidade em mostrar o que realmente sou.

“O sol tem um brilho diferente a cada novo dia.”

“É engraçado como podemos nos lembrar de algumas sensações sem que nos esforcemos para isso.

“Apesar de nunca estarmos fazendo nada, acabamos sempre fazendo tudo ao mesmo tempo.

“Deveríamos nos preocupar mais em apreciar as cores vibrantes do céu que somente o pôr do sol é capaz de nos propiciar.”

O mundo que vivemos é diferente para cada um de nós.

“Poderia escrever uma canção para cada sentimento que o invadia.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Linhas Brancas Horizonte Cinza

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Após algumas horas de viagem o ônibus chegou ao destino como o planejado. Desta vez me perecia que não tinha deixado absolutamente nada para trás. Ainda mais quando o parecia que o momento havia feito um ensaio com a paisagem, pois estava tudo em seus lugares em uma sintonia perfeita. Alguns raios de sol davam sua graça em meio aquele imensidão de nuvens, que rapidamente sumiam pouco á pouco para o dia, enfim, ficar ensolarado. Choveu boa parte do caminho e o cheiro de terra já exalava forte.

Desci em uma pequena e velha rodoviária bem típica de interior. Com algumas partes rebocadas bem visíveis, uma linha de poeira sobras suas paredes e as ruas, onde trafegavam automotores e charretes, eram de paralelepípedo. Havia aos montes grupos de velhos espelhados pelo local inteiro. Talvez sejam os maiores frequentadores de rodoviárias interioranas.

Minha primeira vontade era de tirar o tênis e andar descalço. Fui covarde, não fiz. Então tratei de comer algo rápido, como coxinha, quibe ou algo parecido. Mas tudo sem pressa nenhuma, faltava apenas quinze para meio-dia. Sentei no balcão e tirei da minha mochila meu caderno (com aspiral de barbante, pois o original tinha quebrado inteiro) e comecei a escrever algumas idéias.

Fui interrompido por um senhor que disse algo muito rápido e começou a rir logo em seguida. Olhei para sua cara e percebi nitidamente que não havia maldade no que tinha me dito, tinha cara de ser boa gente. Ri junto, sem motivo, fui simpático. Ofereci-lhe um café e se recusou, mas me pediu um cigarro. Pegou, agradeceu e foi embora. A essa altura achava isso tão normal.

Fiz meu pedido e passei a olhar em volta. Tinha lá sua loja de doces e salgados que não havia nem espaço para andar. A loja de tranqueiras de diversos tipos de coisas que você pode imaginar, úteis e inúteis. Uma loja de roupas e as cabines de compra das passagens. Algumas pessoas e cachorros circulavam por lá e um velho relógio de corda anunciava meio-dia.

Meu tempo parou por uns instantes e meu pedido tinha chego. Senti falta da minha garrafa de cerveja, então acenei com a mão para alguém. Estava pegando a moeda no chão e assim que levantei a cabeça deparei com dois olhos grandes e esverdeados, no entanto o que mais tinha chamado minha atenção foi seu sorriso. Ouviu meu pedido sorrindo e assim trouxe do mesmo jeito. Invejável. Ela tão cheia de vida e eu lá, pobre de espírito. Simplesmente não fico sem São Paulo, mas começou a me fazer bem uma fuga.

Terminei minha refeição sem pressa alguma, e ela disparando sorrisos para todo lado. Fechei a conta e deixei uma gorjeta gorda para a atendente sorridente. Tinha achado alguém feliz com a vida. Arrependi-me da gorjeta. Ao invés de elogia-la pelo seu sorriso contagiante preferi pagar por ele com uma gorjeta. Ridículo. Pois é, vivendo e aprendendo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O despertar de um sonho

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Esperar por respostas nunca fora sua verdadeira intenção. Sozinho em seu quarto, compondo e se esforçando ao máximo para analisar os erros que o impediram de mostrar seu verdadeiro potencial, se afogava em mágoas que nunca mais o abandonariam.

Poderia escrever uma canção para cada sentimento que o invadia. A essa altura, já eram muitos e formavam um redemoinho intenso que atingia seu peito em uma chuva de ardor e farpas.

Observando as luzes dos carros que refletiam pelo teto, começou a imaginar um mundo mágico no qual todos eram felizes. Onde os raios do sol cintilavam belos a cada manhã e o fracasso não atingia, nem mesmo, o menor dos seres. Podia correr entre as arvores e sentir a brisa deliciosa do verão. Ser amado e poder retribuir de forma verdadeira tal sentimento. Um mundo que, simplesmente, conseguisse voltar ao lar e mostrar um sorriso sincero sempre que se olhasse no espelho.

Sentado a beira de um magnífico lago, ele podia ver uma linda mulher que nadava tranquilamente pelo caminho do horizonte. O por do sol deixava sua silhueta ainda mais intrigante e sabia, mesmo sem nunca tê-la visto, que o momento de conhecê-la era aquele. A garota emanava uma energia incrível e por alguma razão, podia sentir que ela o chamava. Começava a perceber que todos os pensamentos eram guiados em sua direção. Resolveu, aos poucos, tirar suas roupas e deixá-las de lado. Quando a última peça atingiu o solo, aproximou seus pés do lago e deixou que o instinto lhe guiasse.

Nadando pelas águas mornas, lentamente foi se aproximando da garota e, finalmente, conseguiu visualizar nitidamente seu rosto. Era lindo e misterioso. Por mais que tentasse, não reconhecia, mas tinha certeza que era familiar. Os olhos negros e a pele clara como a neve o impressionavam, pois ao longe não conseguia perceber que, na realidade, a garota era ainda mais linda do que imaginava. Os cabelos escuros refletiam a luz do sol, e o sorriso sincero o emocionava de uma forma única que sua juventude não lhe permitia entender.

Enquanto se aproximava, se deu conta que a garota, agora, também nadava em sua direção. Os olhos dela iam de encontro aos seus. A água rebatia levemente em seu rosto e sua visão era preenchida pela chegada de sua desconhecida companheira. Quando se aproximaram, já era possível sentir a respiração ofegante de cada um. Cessaram o nado e passaram a se olhar sem nunca deixar de estampar um sorriso no rosto.

Alguns minutos se passaram e ele tinha a impressão que nunca havia sido tão feliz em toda sua vida. Aquele simples momento, um olhar e um pequeno sorriso haviam mudado sua breve existênica para todo o sempre. Com um gesto suave, ela estendeu sua mão direita para fora da água e proferiu seu nome. Ele entendeu o gesto e fez o mesmo. Suas mãos se aproximaram e, em um toque suave, se uniram. A felicidade invadiu seu corpo e um amor esquecido e solitário voltou a preencher seu coração.

As luzes no teto de seu quarto continuavam a brilhar, mas agora podia sentir com clareza a respiração suave da mulher que dormia abraçada ao seu lado, com a cabeça apoiada docemente em seu ombro e a mão direita que, agora, jazia solenemente sobre a sua. Havia por um momento se esquecido do que era realmente importante em sua vida. Sentia-se muito bem. Sorriu, fechou os olhos e, finalmente, adormeceu.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Caixa de entrada

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Ainda escrevia procurando uma razão qualquer onde eu conseguisse me expressar com clareza. Algumas pessoas andavam me cobrando isso, mesmo que indiretamente. Realmente estava abusando do silêncio em ocasiões fora do necessário. Seria uma boa ocasião aquele certo desabafo com alguém. Uma hora todos precisaram. Quem costumava falar demais com as paredes havia se cansado de nunca obter respostas delas. Era a hora necessária para ganhar a estrada.

Mas antes mesmo de dizer um até logo fui conferir a caixa de e-mail buscando alguma notícia interessante. Minha caixa de e-mails continha correntes, vagas de empregos com absolutamente nada parecido com meu perfil, anúncios imprestáveis e avisos urgentes sobre algum acontecimento. Tirando toda essa porcaria generalizada havia um e-mail que nunca tinha chamado minha atenção, mas claro que dessa vez havia despertado um interesse fora do comum. Era uma colega dos tempos de faculdade que fazia algum tempo que não tinha notícias. Na faculdade mal conversávamos, ela apenas possuía o meu e-mail para tal eventualidade dentro da sala. Mesmo assim achava ela uma boa pessoa e não tinha nada contra.

O e-mail em si dizia logo no começo que ela não queria ser inconveniente nem nada, que apenas queria expressar tal felicidade. Agradecendo a atenção que foi dada pelos amigos e conhecido em geral. Que ficou surpresa com as respostas de gente que ela não tinha contato há certo tempo. Fez todo um discurso dizendo sobre a importância das pessoas demonstrarem o carinho com o próximo e tudo mais. E acabou com a seguinte frase: “É inegável a importância de um gesto de carinho e afeto....

Mesmo sabendo que o e-mail não foi encaminhado somente para mim e sim para mais outras setenta e poucas pessoas, resolvi, estimulado pelo seu singelo sentimento, mandar-lhe uma resposta. Disse a verdade. Que nunca lia o que ela mandava, não só para mim como para as outras setenta e poucas pessoas, mas que dessa vez não tinha passado em branco. Deixei bem claro minha intenção, que foi somente me expressar depois de ficar surpreso com um e-mail tão gentil. Assim mandei-lhe. De vez em quando a gente fica meio fraco, meio estranho.

Acabei adiando alguns dias minha ida. No decorrer desses dias não obtive nenhum retorno. Talvez ela não tenha visto. Acho que ela não teve tempo. Ou até mesmo ela tenha feito o mesmo que eu sempre fazia, simplesmente apagou. Não sabia, mas era fato que eu esperava uma resposta.

Peguei minha mala, fechei o zíper e bati a poeira sobre ela. Antes mesmo de sair ainda fiquei curioso e fui dar uma olhada rápida. Mensagem do banco, anúncios fúteis e um de cobrança, mas nada dela. Sorri e coloquei meus pés para fora de casa. Desta vez andava um pouco mais satisfeito comigo sabendo que a esperança ainda corria solta por aí.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Keep Walking

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Peguei alguns trocados que estavam espalhados pela gaveta e conferi. Havia dezessete reais e mais alguns centavos que tive folga de contar. Com o dinheiro decidi comprar um livro no sebo próximo de casa para passar o tempo nas horas vagas. As horas que ultimamente andavam vagas demais. No caminho eu pensava e falava sozinho, sempre tentando transformar tudo à minha volta em uma grande piada. Algumas sacadas que eu imagino são tão boas que freqüentemente eu solto um sorriso discreto para mim mesmo.

Eu levanto e durmo com medo de virar uma simples estatística em meio a tantos imbecis. Desde aquele que acha que muda o mundo dando esmolas, até aquele que acaba de desmamar em plena faculdade e acha que entende de política, gritando e discutindo com um copo de cerveja na mão a situação de nosso país. Para esse tipo de indivíduo dê-lhe os ouvidos da razão e o desprezo do silêncio.

Lá estava na minha mesa dezenas de papéis rabiscados cuja inspiração era sempre voltada para noites frias, solitárias e silenciosas. Eu me encontrava novamente em uma noite de inspiração, não sei nem mesmo dizer se é por escolha própria ou não. Conferindo alguns trechos que escrevi em diversos papéis, tentei bolar um parágrafo que fugisse do convencional, do julgamento fora de controle.

Quando a fase não é boa praticamente não existe espaço para belos pensamentos. E fugir do convencional poderia ser tornar mais perigoso do que se pode imaginar. Não quis arriscar escrever algo sem sentimento algum.

Peguei então o livro e li rapidamente em duas noites. Havia comprado o livro certo na hora errada. Isso me custou uma semana de insônia.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Almas de cristal

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Ainda podia se recordar quando olhava as nuvens ao seu redor do quanto o mundo estava diferente. Talvez, antigamente, estivesse mais preparado ou simplesmente não conseguia mais se adequar as mudanças que aconteciam a sua volta.

Nascera rico, sempre tivera grandes amigos e sua família nenhuma vez abdicara de amá-lo. Não lhe faltavam paixões e tinha a imensa habilidade de nunca falhar. Não porque se esforçasse para se eternizar como uma mente brilhante, mas, sem nenhum esforço e dedicação, conseguia mostrar ao mundo que nada era impossível não importasse o que pretendia ter, fazer ou conquistar.

O mundo que vivemos é diferente para cada um de nós. Todo o sucesso, fama e valor já não faziam mais sentido. Possivelmente nunca haviam feito. Rodeado de luxo não podia ser mais solitário. Por mais mulheres que conquistasse, seu coração não ardia mais. E independente do quão competente e conhecedor do mundo fosse, não lhe abandonava a idéia que fosse o mais pobre ser entre todos nesta terra.

Contentava-se apenas em conversar com o querido beija-flor que todos os dias lhe fazia uma pequena visita ao seu imenso jardim. Passava horas na frente do espelho e já não acreditava mais no que o reflexo lhe respondia. Passou a fazer brincadeiras sem sentido e a fingir que seu coração partido e sua alma sem convicção eram apenas um brinquedo quebrado largado ao longo da estrada.

Começou a colecionar armas e a enganar os que se preocupavam com sua nova reputação. Seu confidente o aconselhava a acabar logo com tudo, mas no fundo sabia que lhe faltava coragem. Em um desses longos monólogos, passou sete horas em frente ao espelho com um revolver calibre trinta e oito apontado para sua têmpora. Fazia piadas e se divertia com algo que somente ele seria capaz de explicar. Num certo momento se deu conta que já estava exausto de tudo aquilo e que chegava a hora de descansar. Simplesmente apertou o gatilho. O corpo caiu imóvel ao chão. Ainda sorria. O espelho refletia, agora no meio do caos, o sangue que escorria por todo o quarto e a silhueta sombria de uma alma vazia e inconsolável.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Um suspiro dos céus

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Estava sentado em um bar na beira da estrada. Era simples, mas belo. O ambiente era convidativo e o balcão possuía um vitrô raso e sensível que não deixava as gotas e bebidas atingirem a madeira. Não havia ninguém além de minha pessoa e o balconista que me servia. Ouvia apenas o som dos pratos e copos que eram lavados na cozinha e aos poucos bebericava meu whisky olhando a mim mesmo no reflexo do espelho das estantes que acomodavam as garrafas.

Durante o terceiro gole, escutei o ranger da porta. Virei-me e fiquei paralisado. Uma linda mulher entrou suavemente e se dirigiu até o balcão em passo lentos, diretos e sensuais. Não tirei meus olhos dela até que se sentasse. Não apenas porque o som havia me chamado a atenção, mas porque sua beleza tornava este ato impossível. Sentou-se ao meu lado esquerdo a alguns bancos de distância. Ruiva e com os cabelos lisos que fluíam sem devaneios até o meio das costas. Olhos azuis. Um corpo estonteante e um andar simplório que lhe transformava em uma figura mágica. A forma como se portava era invejável e, sem que eu percebesse, acabou me hipnotizando.

Não sabia o que fazer, mas tinha certeza que não podia deixar aquela chance passar. Chamei o garçom e pedi que servisse a linda moça uma taça do vinho tinto mais saboroso e suave que existia naquele bar. Quis acreditar que o vinho fosse algo que apreciasse. Um terrível engano. Ofereci-lhe um brinde. Levantei meu copo e a cumprimentei. Ela fingiu que não viu o meu gesto ou talvez sua imponência fosse tão grande que realmente não tenha reparado ou, sequer, percebido que eu estivesse ali. Mais um passo em falso.

Levantei-me e me sentei ao seu lado. Disse um olá um pouco sem graça e dei mais um gole no meu copo. Ela apenas pegou sua taça e levemente a levou aos lábios. Tentei uma vez mais. E novamente ela não me respondeu. Sequer virou-se para me olhar. Minhas tentativas estavam indo de mal a pior. Ela estava com o rosto virado para o lado oposto ao meu. Observando algo que ainda não conseguia ver ou sentir esperando apenas que eu desistisse e voltasse ao meu solitário mundo.

Aproximei meu rosto de seu ouvido. Podia sentir o seu perfume. Um aroma leve, livre e adocicado. Seu cabelo, macio como seda, refletia a luz do final do entardecer que entrava sorrateiramente pela janela. Sussurrei com calma e veemência. Disse a ela o quanto estava linda e quão importante era sua presença naquele lugar, que o transformava, por pequenos instantes, em um local divino justamente por ela ter, um dia, passado por lá. Lembrei-a do quanto era belo e cativante a forma como arrumava o seu cabelo e principalmente o modo misterioso e sereno que levava a taça até a boca. Uma beldade tentando convencer a si mesma de que ainda tinha cartas na manga para mostrar que podia ser mais exuberante e inesquecível do que o habitual, mesmo que para nós, meros admiradores, parecesse impossível. Por último, tentei recordá-la do quão incrível havia sido o momento em que ela havia dado o primeiro passo através da porta em direção ao balcão. O tempo havia parado por um segundo e o universo inteiro havia deixado de cumprir suas obrigações somente para poder observá-la. Afinal, poderia ser a última chance que teríamos para contemplar algo tão maravilhoso.

Pouco a pouco, voltei a minhas obrigações e deixei de importuná-la, pois não havia dito nada a ela que já não estivesse cansada de saber. Sem mais opções, aguardei para ver se minha última cartada faria algum efeito. Uma melodia suave soou em meu ouvidos e senti um leve movimento vindo de sua parte. Ela se virou carinhosamente em minha direção. Ficamos frente a frente. Por um segundo, não tive certeza do que aconteceria e um calafrio intenso cobriu todo meu corpo. Olhei no fundo de seus lindos olhos. O azul incansável dominava completamente meus pensamentos e seus olhos brilhavam intensamente. Mais belos e vivos que o último raio de luz que um cristal despedaçando pelo assoalho poderia refletir.

Sem que percebesse, nossos lábios ficaram cada vez mais próximos. Uma aura púrpura nos cobriu e, em um momento mágico, nos beijamos. Não tinha certeza sobre o que havia acontecido. Uma chuva de sentimentos e um alívio intenso tomou conta de mim. Nunca havia sentido nada igual e nunca mais conseguiria senti-lo. Uma sensação única e inexplicável que me fez pensar que, por um momento, poderia conseguir tudo o que quisesse nesse mundo sem ao menos me esforçar. Nunca mais me esqueceria. Nunca mais.

Um copo veio ao chão e se estilhaçou em pedaços. O barulho dos cacos se espalhando pelo bar foram ficando cada vez mais altos e ensurdecedores até que fui obrigado e me esquivar e proteger os ouvidos. Uma explosão silenciosa aconteceu e uma luz branca e intensa me obrigou a fechar os olhos. Não podia enxergar e nem mesmo ouvir o que acontecia a minha volta, mas aos poucos o barulho e a luz foram diminuindo até que nada mais me incomodasse. Quando abri os olhos estava em um campo aberto que abrigava apenas uma grande arvore em seu centro. Olhei em volta e não havia mais nada além da grama ao vento e das montanhas nevadas que ficavam a alguns quilômetros de distância. O tempo estava agradável e podia sentir uma leve brisa que animava o entardecer. Andei até a isolada arvore e sentei-me para apreciar as cores vibrantes do céu que somente o por do sol é capaz de nos propiciar e mais um dia em minha vida chegava ao seu fim. Mais um dia.

domingo, 12 de julho de 2009

Sociedade

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Discutíamos um assunto sobre sorte ou azar em plena terça-feira de um dia ensolarado. Sentar no bar e tomar cerveja em uma das mesas da calçada tinha sido uma ótima escolha. O dia estava propício para isso.

Havia um certo conflito na opinião de cada um, parecia não ter nenhuma maneira de entrarmos em um acordo. Em meio há gritaria e discussões, foquei meu olhar para uma garota que passara correndo exatamente na nossa frente. Com uma saia indiana, chinelo rasteiro e o cabelo preso com um lápis ela corria. Sua bolsa pulava de um lado para o outro, e com livros na mão foi em direção ao ônibus para alcançá-lo. Sua beleza talvez tivesse ficado em segundo plano. Correu e seu esforço foi recompensado.

“Só mulher gente boa corre atrás de ônibus, não tem como negar que ela ganhou alguns pontos positivos”, alguém falou. Tinha pensado exatamente a mesma coisa. Expressei minha opinião dizendo que tinha concordado com sua idéia e o assunto morreu por aí. Simplesmente ela passou e eu fiquei. Assim são alguns trechos mal escritos na nossa vida.

Passamos metade da nossa vida com a cabeça encostada no travesseiro. Reclamando daquilo que estamos fazendo, que vamos fazer ou que deixamos fazer. Grande maioria é facilmente manipulada por conceitos alheios e cada vez mais deixam de expressar suas opiniões.

Acabei minha cerveja e despedi-me de todos na mesa. Era hora de se retirar e tocar minha vida. O vento não ajuda a empurrar quem prefere ficar parado. Passam-se os dias e eu ainda não consigo me acostumar com determinado fatos. Eu realmente não nasci para agradar os conceitos da sociedade.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Uma forma triste para dizer adeus

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É verdade que fiquei um pouco ausente nos últimos dias, meses e anos. Não porque era essa a minha intenção, mas, porque, apesar de nunca estar fazendo nada, acabo sempre fazendo tudo ao mesmo tempo.

Deitado na cama, conseguia avistar um pássaro cinzento de penas brancas isolado no parapeito de minha janela. Sozinho e contemplando sua imensa solidão, ele ficava imóvel, talvez refletindo sobre o que havia feito de realmente importante em sua vida e recordando os sentimentos que não mais o aqueciam e, que agora, apenas lhe deixavam um vazio obscuro em seu coração. Talvez. Mas nunca saberemos o que um animal livre e solitário como esse poderia estar realmente sentindo.

Mesmo perdendo alguns minutos a observar, cheguei a conclusão que me senti um pouco mais alegre e com alguma inveja de sua imponência. A sensibilidade em meus ouvidos estava cada vez maior e já conseguia ouvir os risos das crianças que brincavam na esquina a vários metros de distância. Os risos se aproximavam e o pequeno pássaro, atento, observava o mundo enquanto, em pequenos lampejos, enfiava graciosamente o bico entre as asas uma vez ou outra para quebrar o tédio. Os risos continuavam e estavam cada vez mais perto. Cessaram exatamente embaixo de minha janela. Peguei o violão e dedilhei algumas notas. O pássaro de penas brancas finalmente quebrou sua postura e virou-se em minha direção. Olhou-me e grunhiu de uma forma tão sincera que pude sentir que estava me dizendo adeus. Mas por que comigo? Por que naquele momento e daquela forma?

Ouvi apenas um tiro. O violão caiu de minhas mãos e o pássaro havia sido perfurado por uma minúscula bala de chumbo em seu pescoço. Sua cabeça titubeou com o impacto e ficou dependurada. Os olhos ainda abertos, mas já imóveis não demonstravam mais nenhum sinal de vida. O pequeno animal já não era completamente cinza e suas penas brancas, agora, estavam manchadas pelo seu próprio sangue e pela crueldade de uma criança que apenas queria se divertir. Ele girou e caiu para o chão como uma estrela cadente em seus últimos segundos de brilho e aterrissou ao chão no mesmo instante em que o violão se debateu contra o assoalho. Já não estava mais entre nós.

Corri para a janela, com uma raiva que jamais havia sentido. Tinha perdido algo dentro de mim, mas ainda não sabia o que era e que ainda, apesar dos anos, não descobri o que foi. Um grupo com cinco garotos riam e se exaltavam com o feito. No meio deles um garoto loiro, bem vestido e com uma arma na mão. Era o líder e o autor do crime. Olhei diretamente em seus olhos azuis e consegui sentir a maldade em suas intenções. Possuía um sorriso malicioso e perverso. Senti um calafrio me percorrer a espinha. Estava com vergonha do ser humano e por pertencer a mesma raça daquele franzino menino. Há quem diga que possamos ver Deus no resto de uma inocente criança, mas não estava preparado para encarar um pequeno demônio de frente. Ele se virou e andou lentamente até dobrar a esquina. Seus capachos se apressaram e o seguiram sem pestanejar. Foi a última vez que os vi na rua, mas ainda posso ouvir claramente os risos ecoando.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Confinamento - Final

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No dia seguinte retomei o que estava fazendo. Cada dia que passava se tornava mais difícil terminar a carta. Sabia que ainda iria tomar uma rasteira da minha compaixão. Infelizmente ainda continuo preso aqui. Achei que seria necessário limpar novamente a poeira sobre os livros. “Tinha uma vida dupla? Ou uma dupla personalidade?”. Antes mesmo de continuar peguei um livro na estante, na esperança de achar algum que eu não tenha lido no mínimo três vezes. Eu ainda continuo preso aqui.

Entre os preferidos estavam muitos romances. Romance é muito mais do que escrever, não é uma fábula inventada por qualquer um apenas para entreter, é algo que precisa ser sentido, vivido. Tinha me perdido nessa matéria, cheguei atrasado, cabulei demais. Peguei a caneta em minhas mãos e escrevi na folha:

“Resumindo a conversa de muitos assuntos e poucas palavras. De repente eu assisto, novamente, tudo por cima do muro. Eu deixei de temer meus medos, só que nunca deixei de respeitá-los. Mudando um pouco de assunto, não sei se você gosta de Bob Dylan. Comecei a ouvir bastante e agora prestei um pouco mais de atenção nas letras. Sabe, às vezes, em uma fase qualquer algumas bandas tornam-se trilha sonora do nosso dia-a-dia.”

“Cansei meu amigo. Cansei de ter razão. Cansei de ser incompreendido. Cansei de estar sempre na linha de tiro e estar sempre com a cabeça erguida. Talvez o único que se manifestava na hora ruim, sem qualquer pensamento esperando um favor em troca. Quantas vezes omiti a verdade e sofri as conseqüências com isso. Que inconseqüente não acha?! Ser o alvo principal apenas para manter o ciclo de amizade. Que ironia, talvez agora eu veja que nem todos merecem meu sacrifício. Cansei de ser o coringa do baralho, de ser uma sombra no escuro. Já foi tempo que fui humilhado e me humilhei. Minhas poucas palavras são apenas uma pequena parte de minha defesa. As suas talvez eu seja o que mais saiba e o que menos compreende.”

“O confinamento ainda continua e eu infelizmente ainda estou preso aqui. Só que nesse tempo superei um medo. Possivelmente sim ou talvez até não. Nunca achei que seria necessário passar por isso, só que estou cansado demais. Não foi culpa minha outra vez, não busquei superá-lo, simplesmente aconteceu. Superei o medo de perder amigos.”



Confinado há exatos 7 meses, 23 dias e algumas horas.