terça-feira, 28 de abril de 2009

Plano de seguimento 2º Parte

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“Fique à vontade – disse. E depois retirou-se.” Foi a última frase que conseguiu escrever no dia. Foi até sua cozinha para tomar um copo d’água e comer algo para enganar um pouco o estômago. Abriu a geladeira e encontrou “o quase vazio”. De encontro com “ele” novamente – pensou. Caminhou até sua sala e pegou telefone, seguido por um rápido olhar até o calendário. Dia 12, 05h03min PM. Ninguém atendeu. Sentou novamente sobre sua cadeira e afogou-se em sua bagunça, entre ela papéis e livros. Coçou a barba, que por sinal encontrava-se em um estado avançado de seu crescimento, e lutava para bolar alguma idéia criativa para desenvolver seu novo personagem.

Havia uma crise existencial entre o autor e o personagem. Podia ele corrigir seus maiores erros dentro de seu personagem, no entanto cometeria um erro fazendo isso. Puxou um papel e enumerou em duas fileiras suas qualidades e seus defeitos. Não ficou surpreso, havia muito mais defeitos do que às próprias qualidades. Tinha em mãos um personagem tão obscuro quanto ele, e pensava o quanto seria complicado para algumas, ou certamente para maioria, entender um personagem assim como ele. “Dificilmente descobrimos quem somos, imagina então para que viemos.” – Refletiu.

No caderno havia tantos rabiscos espalhados pelas páginas inteiras, tudo em diversas posições e tamanhos diferentes. Todo mundo tem sempre uma mania estranha, a dele podia ser essa, mas a de um gênio é aquele que sonha e acorda de madrugada somente para anota-lo. Procurava então uma próxima música, acabou optando por um Blues. Suspirou e enfim teve tempo de escrever mais algumas palavras...

sábado, 18 de abril de 2009

Por entre as grades da janela

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O mundo se transforma em um lugar muito melhor após o anoitecer. Principalmente depois que aprendemos a viver no constante exagero da vida jovem que nos mata pouco a pouco sem que demos ao corpo ao menos uma chance para nos mostrar o quão errado está o caminho que sentimos prazer em seguir. Pessoas importantes sucumbiram diante disso e uma infinidade muito maior, que nunca sequer saberemos quem foram, também. Para dizer a verdade, sinto bastante falta da minha infância.

Em alguma dessas noites, poderia muito bem contar que o mundo girava a minha volta. Era livre, engraçado, chamava a atenção e sabia que o sorriso não fugiria nunca de meu rosto. Amigos, amores ­­ – correspondidos ou não ­–, brincadeiras, brigas, verdades, mentiras, músicas, sorrisos, carinhos e abraços. Tenho muita sorte em afirmar que a felicidade sempre caminhou comigo lado a lado.

Agora, sentado e tentado escrever, não poderia deixar de ser tão sincero. Vejo os raios do sol de uma maneira diferente, mais vivos, belos e radiantes. O céu, limpo e ciano, nunca esteve tão azul. Uma brisa refrescante passa por minha silhueta e sussurra ao meu ouvido: “Não importa o que deseje, você não poderia estar em melhores condições.”

Não sinto frio nem calor, apenas o vento suave e sereno me pedindo para que flutue com ele por alguns instantes. Uma linda garota, de cabelos loiros e presos, passa pelo outro lado da calçada, falando ao celular e desfilando sua admirável beleza, com um sorriso inesquecível em seu vagaroso andar, passos lentos e aconchegantes como se fosse a noiva indo de encontro ao altar realizando o sonho de menina. Se tivesse a oportunidade para vê-la de frente, poderia jurar que uma lágrima está prestes a escorrer por seu maravilhoso rosto. Apaixonei-me em uma fração de segundos, mas já estarei livre assim que ela dobrar a esquina.
As arvores não estão com tantas folhas assim e só posso ouvir pequenos pássaros a cantar. Um amigo disse-me que o outono havia chegado e só me dei conta da verdade neste exato momento. Nunca havia percebido que sinto prazer ao ouvir o som dos carros deslizando pelo asfalto.

Tudo isso ouvindo One Day It Will Please Us To Remember Even This(New York Dolls). A um primeiro momento, pode lhe parecer estranho e que não seria uma trilha sonora selecionada com cautela, mas se tiver a chance de fazer o que está me entretendo, verá o quão verdadeiro estou sendo em minhas palavras. Acho que nunca estive tão certo em toda a minha vida e a satisfação em seu rosto lhe dará provas de que por menor e menos significantes que sejam alguns momentos, a vida pode ser muito melhor do que tudo que esperamos dela.

Vou me esforçar para voltar ao mundo real. Ainda é cedo e o feriado mal começou. Acho que sou uma pessoa fácil de entreter. Não espero muito do mundo. Deve ser por isso que estou sempre feliz. Tentarei passar isso adiante, mas o ser humano não é um animal simples de convencer. Gostaria de continuar agora, mas não quero me cansar, nem a mim nem a todos vocês. Voltarei um dia e estarei os aguardando com um imenso prazer. Até.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Plano de seguimento

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Seguia ele escrevendo um roteiro de viagem para dentro do seu quarto. Roteiro de viagem para dentro do seu quarto? Quem imaginara tal loucura ele se perguntava. Uma vez conversou com seu próprio reflexo, entre uma conversa ou outra chegaram à conclusão que ambos pensavam diferentes.

Quanto tempo estou preso nesse quarto? Dias? Meses? Pela sujeira acumulada nas lentes do meu óculos acho que não parece tanto assim. Fome? Sinto de vez em quando, aprendi a conviver tomando um pouco de água e comendo alguma tranqueira qualquer. Ah que bela musica toca no rádio, uma pena eu não saber o nome nem o autor dela. Com certeza ela será tocada uma outra vez, pois é uma bela canção.

Chovia tanto lá fora que o vento parecia querer arrebentar sua janela. Teve que parar no meio da sua inspiração para colocar alguns panos para pararem de tremer. Olhou para a rua e viu as pessoas correrem, mas desta vez não se importou tanto em observar elas lá fora, havia se cansado um pouco disso talvez. Pegou uma caixa e abriu, tinha tantos sonhos lá dentro que se pôs a sorrir, felicidade andava com ele novamente.

Calçou seu par de meias furada junto com seu tênis quase sem sola. Seu bom humor, de tão contagiante que estava, achou engraçado sua situação. Sentia-se cansado, mas não fazia idéia do motivo pela qual encontrava-se diante de tanta fadiga. Não parava quieto e não conseguia ouvir uma música inteira. Caminhou até o banheiro e lavou seu rosto, ao subir deu de cara com seu reflexo em meio ao espelho. Outra discussão? Arriscou um sorriso e foi recebido com o mesmo gesto. Enfim, seu reflexo e o bom homem haviam concordado depois de um longo tempo.