segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Jagged Little Pill

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Estava sentado com o joelho sobre o banco e o braço direito apoiado sobre a mesma perna. O pulso balançava enquanto ele observava o movimento. Estava postado exatamente em frente ao elevador do oitavo andar. Cada vez que o sinal tocava, uma garota mais linda que a outra chegava para retomar seus estudos. Com paixões instantâneas a cada minuto, dava-se conta que havia matriculando-se na faculdade errada, afinal estava ali observando magníficas beldades apenas para esperar seu amigo ganhar presença para que, então, pudessem ir até o bar na avenida mais próxima.

Após um quarto de hora, seu companheiro saiu da sala com uma das mulheres mais lindas que ele já havia tido a oportunidade de ver. Branca como a neve, longos cabelos negros até o meio das costas, um sorriso incrível e um olhar, no mínimo, cativante. Poderia gritar versos de amor para um telhado de cimento. Era exatamente o seu tipo. O tipo que mais lhe encantava. Apresentaram-se e começaram a discutir sobre o preocupante trabalho. Ela precisava ensaiar suas falas para a apresentação de um seminário e acabou usando os dois como cobaia. Seu amigo fazia o possível para tentar ajudar, mas ele, o protagonista, claro, nunca havia tido uma aula sequer de marketing, não fazia idéia sobre o que estavam falando e, mesmo que se esforçasse, a única coisa que realmente lhe prendia a atenção era a impressionante beleza daquela menina.

Mais um tempo se passou e a garota mágica voltou à sala para terminar seu propósito. Os dois desceram até a rua para fumar um cigarro, tomar alguns goles de cerveja e voltar ao lar para acabar mais uma quinta-feira em grande estilo. Nove tragadas e três copos de cerveja eram mais que suficientes para deixá-lo em um estado benevolente e bastante agradável. Bateram um papo, contaram boas piadas sobre a vida medíocre que cada um deles levava e nosso personagem pôde fazer algumas novas amizades que provavelmente nunca mais voltaria a ver.

O caminho de volta no velho ônibus não foi tão agradável assim, pois àquela altura gostaria muito de ouvir uma bela canção, mas não havia nenhum meio disponível para tal. A leitura talvez viesse a calhar, mas Don Quixote não era o livro mais apropriado para o momento. Bukowski ou Hemingway cairia bem, porém não havia um modelo útil disponível. Aproveitou a brisa que chegava pela janela e contentou-se apenas em admirar as luzes e os carros que passavam em alta velocidade.

Outra vez em casa. Cansado, feliz e lembrando-se de como existem pessoas apaixonantes a cada nova esquina. Girou as chaves e cumprimentou os cães que o aguardavam com uma felicidade incomum. Abriu a geladeira e agradeceu aos céus por encontrar uma bela porção de lasanha que ainda sobrara do almoço. Era um caso raro chegar ao lar e não ter que encarar pela frente mais um prato de arroz e bife como vinha acontecendo nos últimos quinze anos, sem interrupções. O mesmo prato por mais da metade da vida costuma, ao menos, ficar um pouco enjoativo.

Carregando o peso de mais um dia de estudos e trabalho, atirou-se de cabeça na Internet para se atualizar sobre as notícias de última hora e pesquisar artigos de cultura inútil. Durante esse pequeno passeio, acabou descobrindo que um álbum da Alanis Morissette havia vendido mais de trinta milhões de cópias ao redor de todo o mundo. Como um disco dela poderia ter feito tanto sucesso assim? Era óbvio que subestimava seu talento e precisava comprovar por si mesmo que tinha algo errado em suas próprias concepções. Graças a internet, ouvir o disco em tempo real não foi problema algum. Seus avós não faziam idéia do quanto tudo é fácil nos dias de hoje. Informação, sexo e violência. O mundo se tornou uma estação aberta para todo o tipo de alegrias e desgraças.

Já o disco, meu Deus! Fazia tempo que uma descoberta musical não o pegava de surpresa. Que voz, que belas composições. Talvez merecesse mesmo ter vendido tanto. Talvez. Depois de muito ouvir, ainda carregava uma pequena dúvida. Não conseguia ter absoluta certeza se o álbum era realmente incrível ou se estava pouco a pouco se tornando homossexual. Não que tivesse dúvidas concretas sobre sua masculinidade, mas não lembrava-se de ter conhecido algum heterossexual que considerava Jagged Little Pill um dos seus CDs favoritos ou que fosse seu fã incondicional. O único amigo que admitia esse gosto peculiar tinha Buffy, A Caça Vampiros  como sua série de TV preferida, portanto não poderia ser levado 100% em consideração.

Voltou à cama enquanto You Oughta Know tocava pela terceira vez e aos poucos foi deixando o sono lhe dominar. Uma aula de revolta para expressar angustias em grande estilo. Provavelmente o cara tenha sido mesmo um grandessíssimo filho da puta, porém acreditava, e hoje tem ainda mais certeza, que mulheres rancorosas nunca conseguem ser totalmente racionais lidando com certas mágoas, por isso era difícil digerir com convicção todas aquelas insinuações. Era ótimo sentir o edredom esquentando-lhe o corpo em uma noite fria. O efeito do álcool e dos cigarros persistia levemente. Nem percebeu quando seus olhos se fecharam. Cair no sono embriagado era o segundo modo para adormecer que mais lhe agradava.  O primeiro era, sem nenhuma discussão, deixar-se levar depois de um belo orgasmo enquanto uma linda garota acariciava os seus cabelos. Infelizmente, esse não fora o caso naquela noite.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Você

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Seria fácil demais
Tentar entender
Seu toque, seus gestos, seu jeito
Sua forma de ver, sorrir, viver
Apenas um beijo

Não seria nada incomum
Encantar-se, deixar-se levar
Sentir-se completo
E não perceber
Por estar mais uma vez ao seu lado

A voz, o riso
O modo delicado
Para tentar esconder
Para brindar, para escolher
Um carinho

É simples
É mágico
Deixar-se seduzir
Quando você é, mais uma vez
Somente você mesma

Cativante, apaixonante
Serena e delicada
A cada abraço, a cada beijo no rosto
A cada encontro
Um presente, uma paixão

Sonho, digo, espero e finjo
Admiro
Escravizo minhas emoções
Enquanto luto para conquistar seu coração
Enquanto me esforço para trazer você para mim

Não importam mais
Os medos, os fracassos
Empecilhos e defeitos
Vontades e receios
Se já fora de muitos
Ou de ninguém
Ainda te levarei ao topo
Pois a única coisa que me importa agora
É você