terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Toda solução cria novos problemas

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Passa o tempo e as pessoas ainda continuam com o mesmo papo de fim de ano. Que o ano passou na frente dos olhos, e como foi rápido. È claro que o ano passa voando quando se é lembrado no final dele, ninguém diz isso no meio do ano. Aí todos resolvem estabelecer, sem menosprezar ninguém, suas malditas metas. A grande maioria e suas metas pessoais, mas pensando sempre nos olhares atentos do outros. Riqueza para fazer inveja, provar que um dia chegou lá. Emagrecer, não pensando na saúde, mas sim para ter um corpo perfeito para os outros apreciarem. Para mim não passam de fantoches ensaiando o teatro dos setes pecados capitais.

Em tempos que pessoas se preocupam com o verão eu queria saber era de encher a cara e comer tudo que puder. Eu lá iria me preocupar com regimes ou metas na única época do ano que sobrava um pouco de dinheiro para desfrutar dos meus humildes prazeres.

Levanto e não penteio o cabelo, ando pela casa o dia inteiro de cueca, executo no mínimo dois cochilos por dia e banho um dia sim outro não. Era simples a matemática de quem trabalha o ano inteiro. Engraçado?! Engraçado mesmo era minha pessoa tomando cerveja naqueles copos de requeijão de vidro da Turma da Mônica (pelo menos em casa, assim que acabava o requeijão, são reaproveitados os copos é claro).

Maurício de Souza para mim é e sempre foi um ídolo. Naqueles velhos gibis, ainda de papel de jornal, ele descrevia com detalhes minha infância. Aquela malandragem de bairro, de amigos de rua não existe mais em uma geração apenas cinco ou sete anos mais nova que eu. Fui ter meu primeiro celular com 18 anos e vivia desligado, jogado ou quebrado. Ridículo pensar, mas eu já estava velho para entender algumas coisas.

Infelizmente eu vejo uma juventude cada vez mais desinteressada pelos fatos ao redor delas, apenas cegamente olhando para o próprio umbigo e sendo cada vez mais egoístas. Todos passam por uma fase que se acham o tal, isso é perfeitamente normal, mas eu não enxergo somente isso. Existe algo além, do tipo uma teoria da conspiração, que ainda não consigo entender.

Terminei meu cigarro e tomei meu ultimo gole de cerveja já quente. Preciso perder a mania de começar a escrever como um desabafo e acabar terminando com um apelo.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A luz que incide sobre ele

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“Qual o problema com você? O que afinal anda acontecendo? Jogar, amar, servir, receber, vencer e falhar já não é mais suficiente? Ouvir, explicar, lutar e tentar entender já não é tão importante assim? Fugir, se esconder, observar e correr por outro caminho anda te cansando, não é mesmo?”

“Você sabe que tudo não passa de uma grande brincadeira? Que todos olham por si e querem, a todo custo, passar por cima de nós e deixar os restos espalhados pelo tapete? Que ninguém se lembraria de limpar os cacos que você quebrou? Sabe que, no fundo, tudo anda uma grande porcaria? Que só tende a piorar? Tem certeza que o mundo, hoje, é um grande barril de pólvora esperando que o primeiro lunático jogue brasas ao chão, não é?”

“Ainda querendo compor e cantar? Escrever e lembrar? Entreter e mostrar? Entorpecer e chorar? Por quê? Esqueceu-se que não existem mais novidades? As ruas, por mais cheias que estejam, continuam sempre vazias? Vazias como o seu coração ou como sua mente? Não sente mais seu coração bater, lembra-se? As veias pulsarem? O calor do sol? Não percebe que o último cliente já se foi e você continua sozinha sobre o balcão?”

“Os sentimentos já não valem nada, entende? O caráter e a dedicação perderam seu espaço? A saudade e a nostalgia só te confundem? Você não sente, não ouve e nem mesmo enxerga o poder da verdade, recorda? Onde escondeu sua montanha de mentiras? Em que lugar acha que vive, afinal? Eu não entendo, você não entende e ninguém mais nesse mundo se esforça para tentar entender?”

“E por que, meu Deus? Por que continua lutando? Por que ainda guarda esperanças? Por que ainda acredita e busca um amor verdadeiro? Por que continua a sorrir? E por que, apesar de tudo, ama tanto essa vida? Você é muito mais estranha do que eu imaginava, sabia?”

Colocou as mãos embaixo d’água que corria e lavou o rosto com muito cuidado. Manchou um pouco o pijama, mas não se importou. Escovou os dentes e depois guardou a escova no armário. Olhou seu reflexo mais uma vez e parou um segundo para refletir: “Talvez seja melhor tirar este espelho daqui.”