segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O despertar de um sonho

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Esperar por respostas nunca fora sua verdadeira intenção. Sozinho em seu quarto, compondo e se esforçando ao máximo para analisar os erros que o impediram de mostrar seu verdadeiro potencial, se afogava em mágoas que nunca mais o abandonariam.

Poderia escrever uma canção para cada sentimento que o invadia. A essa altura, já eram muitos e formavam um redemoinho intenso que atingia seu peito em uma chuva de ardor e farpas.

Observando as luzes dos carros que refletiam pelo teto, começou a imaginar um mundo mágico no qual todos eram felizes. Onde os raios do sol cintilavam belos a cada manhã e o fracasso não atingia, nem mesmo, o menor dos seres. Podia correr entre as arvores e sentir a brisa deliciosa do verão. Ser amado e poder retribuir de forma verdadeira tal sentimento. Um mundo que, simplesmente, conseguisse voltar ao lar e mostrar um sorriso sincero sempre que se olhasse no espelho.

Sentado a beira de um magnífico lago, ele podia ver uma linda mulher que nadava tranquilamente pelo caminho do horizonte. O por do sol deixava sua silhueta ainda mais intrigante e sabia, mesmo sem nunca tê-la visto, que o momento de conhecê-la era aquele. A garota emanava uma energia incrível e por alguma razão, podia sentir que ela o chamava. Começava a perceber que todos os pensamentos eram guiados em sua direção. Resolveu, aos poucos, tirar suas roupas e deixá-las de lado. Quando a última peça atingiu o solo, aproximou seus pés do lago e deixou que o instinto lhe guiasse.

Nadando pelas águas mornas, lentamente foi se aproximando da garota e, finalmente, conseguiu visualizar nitidamente seu rosto. Era lindo e misterioso. Por mais que tentasse, não reconhecia, mas tinha certeza que era familiar. Os olhos negros e a pele clara como a neve o impressionavam, pois ao longe não conseguia perceber que, na realidade, a garota era ainda mais linda do que imaginava. Os cabelos escuros refletiam a luz do sol, e o sorriso sincero o emocionava de uma forma única que sua juventude não lhe permitia entender.

Enquanto se aproximava, se deu conta que a garota, agora, também nadava em sua direção. Os olhos dela iam de encontro aos seus. A água rebatia levemente em seu rosto e sua visão era preenchida pela chegada de sua desconhecida companheira. Quando se aproximaram, já era possível sentir a respiração ofegante de cada um. Cessaram o nado e passaram a se olhar sem nunca deixar de estampar um sorriso no rosto.

Alguns minutos se passaram e ele tinha a impressão que nunca havia sido tão feliz em toda sua vida. Aquele simples momento, um olhar e um pequeno sorriso haviam mudado sua breve existênica para todo o sempre. Com um gesto suave, ela estendeu sua mão direita para fora da água e proferiu seu nome. Ele entendeu o gesto e fez o mesmo. Suas mãos se aproximaram e, em um toque suave, se uniram. A felicidade invadiu seu corpo e um amor esquecido e solitário voltou a preencher seu coração.

As luzes no teto de seu quarto continuavam a brilhar, mas agora podia sentir com clareza a respiração suave da mulher que dormia abraçada ao seu lado, com a cabeça apoiada docemente em seu ombro e a mão direita que, agora, jazia solenemente sobre a sua. Havia por um momento se esquecido do que era realmente importante em sua vida. Sentia-se muito bem. Sorriu, fechou os olhos e, finalmente, adormeceu.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Caixa de entrada

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Ainda escrevia procurando uma razão qualquer onde eu conseguisse me expressar com clareza. Algumas pessoas andavam me cobrando isso, mesmo que indiretamente. Realmente estava abusando do silêncio em ocasiões fora do necessário. Seria uma boa ocasião aquele certo desabafo com alguém. Uma hora todos precisaram. Quem costumava falar demais com as paredes havia se cansado de nunca obter respostas delas. Era a hora necessária para ganhar a estrada.

Mas antes mesmo de dizer um até logo fui conferir a caixa de e-mail buscando alguma notícia interessante. Minha caixa de e-mails continha correntes, vagas de empregos com absolutamente nada parecido com meu perfil, anúncios imprestáveis e avisos urgentes sobre algum acontecimento. Tirando toda essa porcaria generalizada havia um e-mail que nunca tinha chamado minha atenção, mas claro que dessa vez havia despertado um interesse fora do comum. Era uma colega dos tempos de faculdade que fazia algum tempo que não tinha notícias. Na faculdade mal conversávamos, ela apenas possuía o meu e-mail para tal eventualidade dentro da sala. Mesmo assim achava ela uma boa pessoa e não tinha nada contra.

O e-mail em si dizia logo no começo que ela não queria ser inconveniente nem nada, que apenas queria expressar tal felicidade. Agradecendo a atenção que foi dada pelos amigos e conhecido em geral. Que ficou surpresa com as respostas de gente que ela não tinha contato há certo tempo. Fez todo um discurso dizendo sobre a importância das pessoas demonstrarem o carinho com o próximo e tudo mais. E acabou com a seguinte frase: “É inegável a importância de um gesto de carinho e afeto....

Mesmo sabendo que o e-mail não foi encaminhado somente para mim e sim para mais outras setenta e poucas pessoas, resolvi, estimulado pelo seu singelo sentimento, mandar-lhe uma resposta. Disse a verdade. Que nunca lia o que ela mandava, não só para mim como para as outras setenta e poucas pessoas, mas que dessa vez não tinha passado em branco. Deixei bem claro minha intenção, que foi somente me expressar depois de ficar surpreso com um e-mail tão gentil. Assim mandei-lhe. De vez em quando a gente fica meio fraco, meio estranho.

Acabei adiando alguns dias minha ida. No decorrer desses dias não obtive nenhum retorno. Talvez ela não tenha visto. Acho que ela não teve tempo. Ou até mesmo ela tenha feito o mesmo que eu sempre fazia, simplesmente apagou. Não sabia, mas era fato que eu esperava uma resposta.

Peguei minha mala, fechei o zíper e bati a poeira sobre ela. Antes mesmo de sair ainda fiquei curioso e fui dar uma olhada rápida. Mensagem do banco, anúncios fúteis e um de cobrança, mas nada dela. Sorri e coloquei meus pés para fora de casa. Desta vez andava um pouco mais satisfeito comigo sabendo que a esperança ainda corria solta por aí.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Keep Walking

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Peguei alguns trocados que estavam espalhados pela gaveta e conferi. Havia dezessete reais e mais alguns centavos que tive folga de contar. Com o dinheiro decidi comprar um livro no sebo próximo de casa para passar o tempo nas horas vagas. As horas que ultimamente andavam vagas demais. No caminho eu pensava e falava sozinho, sempre tentando transformar tudo à minha volta em uma grande piada. Algumas sacadas que eu imagino são tão boas que freqüentemente eu solto um sorriso discreto para mim mesmo.

Eu levanto e durmo com medo de virar uma simples estatística em meio a tantos imbecis. Desde aquele que acha que muda o mundo dando esmolas, até aquele que acaba de desmamar em plena faculdade e acha que entende de política, gritando e discutindo com um copo de cerveja na mão a situação de nosso país. Para esse tipo de indivíduo dê-lhe os ouvidos da razão e o desprezo do silêncio.

Lá estava na minha mesa dezenas de papéis rabiscados cuja inspiração era sempre voltada para noites frias, solitárias e silenciosas. Eu me encontrava novamente em uma noite de inspiração, não sei nem mesmo dizer se é por escolha própria ou não. Conferindo alguns trechos que escrevi em diversos papéis, tentei bolar um parágrafo que fugisse do convencional, do julgamento fora de controle.

Quando a fase não é boa praticamente não existe espaço para belos pensamentos. E fugir do convencional poderia ser tornar mais perigoso do que se pode imaginar. Não quis arriscar escrever algo sem sentimento algum.

Peguei então o livro e li rapidamente em duas noites. Havia comprado o livro certo na hora errada. Isso me custou uma semana de insônia.