sexta-feira, 14 de maio de 2010

Em cima do chão, abaixo do céu

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13⁰C do dia 13

Apontava o relógio em prédio comercial da Marginal Pinheiros. O sol que aos poucos ia subindo só enganava os pobres mortais que se apertavam aos montes dentro do transporte público. Depois de trinta minutos em pé, no trânsito, apertado e ouvindo fofocas do cotidiano alheio, o incomodo já tinha virado raiva.

Demorei mais ou menos uns vinte minutos para passar pela catraca, ainda que minha frustração seja sempre pagar R$ 2,70 pela comodidade. Bons tempos aquele que eu pagava R$ 0,75 centavos, passava pela catraca em menos de cinco minutos e achava um lugar para sentar. Mas a pior das invenções do homem estava por vir. Malhando muito mais que qualquer academia, me segurava no popular “puta que pariu” do ônibus. Balançando como um saco de arroz pra lá e pra cá, seguido de inúmeras desculpas por dar uma cotovelada ou outra nas pessoas ao lado. Meu problema não era ser baixo, onde se segurava que era alto. Disputei lugar com uma mulher para sentar-me, ainda que na cara de pau ofereci para segurar sua bolsa, e muito grossa falou que ia descer logo. Então por que da euforia para se sentar então?

Então eis que chega o pior de todos os seres humanos, o cidadão de celular com MP3. A cara das pessoas entregava o real sentimento presente naquele momento.O fato era o seguinte, o aparelho foi feito para uso particular, como o fato condiz com o nome “particular” era exatamente o que o cidadão não fazia. Olhei para cima, suspirei e disse: Eu realmente devo merecer. As estatísticas quase nunca mentem, 98,30% desses tipos ouvem as piores músicas. Algo parecido com os tipinhos que possuem um puta som no carro, que só escuta modinha, funk ou sertanejo. E quem compra som para ou outros é parecido com quem compra coleira para o cachorro, entendem? E lógico que tirei a sorte grande de ser um funkeiro. Nada contra o funk, mas indo trabalhar às sete horas da manhã não era exatamente a música do momento.

Deu cinco minutos – “Tchum tchak tchum tchum tchum tchak olha a sequência do pente”.” É pente é o pente é o pente é pente”

...dez minutos...”é o pente é o pente”

...quinze minutos...”é o pente é o pente é o pente...PORRA!!! Você chega no seu trabalho com a sua hérnia explodindo.

Desci do ônibus. Celular tocou –“Alô.. Oi!... Sim, sim, to ouvindo! Vou ter que trabalhar no sábado? Sim, é que eu tinha...” acabou a bateria. Recorri ao telefone público. Cheguei e me espantei, acho que no meio de tantos adesivos devia ter um telefone embaixo. Faço..., 19 aninhos e fogosa..., boca quente..., ...mestiça..., sem restrições. Não tinha como não ler, tava na sua cara com as inúmeras fantasias sexuais ao seu dispor por um determinado valor. Me deu uma certo ânsia de tanto que tinha. - Alô Rosa!? enquanto falo com você aqui to pegando DST tá, mas ta tudo bem...” Antes de você usar os orelhões você tinha que colocar uma camisinha nele.

Lá estava mais um dia como outro qualquer. Vida na metrópole, metrópole da vida. Sendo em cima do chão e abaixo do céu está ótimo.

2 comentários:

Ana Lins disse...

Já faz 39 minutos que estou sentada na cadeira do escritório, depois de ter passado algo como 128 minutos metamoforseada num saco de arroz. E então há uns 7 que estou rindo do texto aqui.

Você confirmou minha teoria de que as pessoas irritadas são as mais engraçadas do mundo.

Paolo Belloti disse...

Irritação é arte
Ser sarcástico faz parte

Não mais...