segunda-feira, 22 de junho de 2009

Confinamento - Final

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No dia seguinte retomei o que estava fazendo. Cada dia que passava se tornava mais difícil terminar a carta. Sabia que ainda iria tomar uma rasteira da minha compaixão. Infelizmente ainda continuo preso aqui. Achei que seria necessário limpar novamente a poeira sobre os livros. “Tinha uma vida dupla? Ou uma dupla personalidade?”. Antes mesmo de continuar peguei um livro na estante, na esperança de achar algum que eu não tenha lido no mínimo três vezes. Eu ainda continuo preso aqui.

Entre os preferidos estavam muitos romances. Romance é muito mais do que escrever, não é uma fábula inventada por qualquer um apenas para entreter, é algo que precisa ser sentido, vivido. Tinha me perdido nessa matéria, cheguei atrasado, cabulei demais. Peguei a caneta em minhas mãos e escrevi na folha:

“Resumindo a conversa de muitos assuntos e poucas palavras. De repente eu assisto, novamente, tudo por cima do muro. Eu deixei de temer meus medos, só que nunca deixei de respeitá-los. Mudando um pouco de assunto, não sei se você gosta de Bob Dylan. Comecei a ouvir bastante e agora prestei um pouco mais de atenção nas letras. Sabe, às vezes, em uma fase qualquer algumas bandas tornam-se trilha sonora do nosso dia-a-dia.”

“Cansei meu amigo. Cansei de ter razão. Cansei de ser incompreendido. Cansei de estar sempre na linha de tiro e estar sempre com a cabeça erguida. Talvez o único que se manifestava na hora ruim, sem qualquer pensamento esperando um favor em troca. Quantas vezes omiti a verdade e sofri as conseqüências com isso. Que inconseqüente não acha?! Ser o alvo principal apenas para manter o ciclo de amizade. Que ironia, talvez agora eu veja que nem todos merecem meu sacrifício. Cansei de ser o coringa do baralho, de ser uma sombra no escuro. Já foi tempo que fui humilhado e me humilhei. Minhas poucas palavras são apenas uma pequena parte de minha defesa. As suas talvez eu seja o que mais saiba e o que menos compreende.”

“O confinamento ainda continua e eu infelizmente ainda estou preso aqui. Só que nesse tempo superei um medo. Possivelmente sim ou talvez até não. Nunca achei que seria necessário passar por isso, só que estou cansado demais. Não foi culpa minha outra vez, não busquei superá-lo, simplesmente aconteceu. Superei o medo de perder amigos.”



Confinado há exatos 7 meses, 23 dias e algumas horas.

5 comentários:

Ana Lins disse...

tô sabendo qual é a sensação...

boa trilogia :)

Anônimo disse...

eu acho que sei do q vc esta falando... é baseado em fatos reais?!

Paolo Belloti disse...

Gui meu velho,cabe aos verdadeiros amigos dizer se é verdade ou não!

Paolo Belloti disse...

E obrigado Anna!

Ana Lins disse...

Just you keep on rockin' :)