quarta-feira, 16 de junho de 2010

Escrevendo sem pensar

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O frio intenso parece rasgar sua alma a cada furiosa rajada. A cada sopro, uma nova agonia e a cada agonia, mais um pedido sincero de redenção. O sacrifício pelo perdão e o remorso contínuo só podem ser explicados por aqueles que possuem o passado marcado por vexames emocionais, oportunidades perdidas e objetivos impossíveis que, infelizmente, jamais serão realizados.

Muitos podem tentar viver pelos outros tudo o que desejariam para si mesmos. Optar e escolher seguir o seu próprio caminho nos leva a uma estrada árdua que poucos possuem coragem para trilhar. Essa década provavelmente foi a mais inútil, culturalmente falando. Nenhuma explosão, nenhum hit sincero, nenhuma criação que será lembrada daqui a quarenta e poucos anos. Certamente nossa geração desistiu de lutar, por isso sempre surgem falsos poetas – como eu ­– buscando alguma forma de reinventar o mundo sem perceber que estão apenas repetindo o que muitos já fizeram milhões de vezes antes.

Tudo é muito fácil, simples e rápido. Tudo o que buscamos está sempre a um palmo de distância. Nunca foi tão fácil conseguir informação. Talvez ser burro seja um privilégio hoje em dia. Férias, Copa do Mundo, trabalho! Sempre a mesma desculpa para que passe mais um dia e nada aconteça. A vida é monótona e previsível quando a infância e a adolescência ficam para trás. Seguir o fluxo é muito mais simples. A depressão, certamente, será uma das catástrofes do século XXI.

Sentir a recepção de quem lê aquilo que escrevemos é a única arma que os escritores têm a seu favor. Nunca ninguém saberá quais as reais intenções que foram ao papel. Para quem, quando e onde? A verdade? Mentira? Realmente aconteceu? Com ele, comigo, conosco? A imaginação vai muito além do que poderíamos nos permitir e, algumas vezes, sequer acreditamos naquilo que acabamos de compor. Mentimos fingindo a verdade, amamos platonicamente, acusamos omitindo, odiamos sem precisar, confessamos sem demonstrar, demonstramos sem confessar, fingimos sem nos preocupar, nos preocupamos sem motivo, brincamos com o que não conhecemos, expressamos sem emoção, emocionamos sem experiência, lutamos pelo que nunca ninguém acreditou, acreditamos em algo pelo qual nunca lutaremos. Cabe a você entender o que buscamos declarar. Esse parágrafo é apenas mais um esdrúxulo exemplo do que estou afirmando.

Lembro-me que ainda preciso terminar essa página. Aumento o volume do som enquanto meu querido cão malhado lança com cuidado sua pata sobre meu braço esquerdo. Olha-me com um ar de amargura, se expressa, chantageia e deseja atenção. Paro um segundo para lhe direcionar um pouco de afeto. E mais uma vez uma descrição idiota como essa, rende-me mais algumas linhas.

Podemos ser muito espertos, mas completamente estúpidos. Egocentrismo é tudo e nada ao mesmo tempo. No final, apenas você poderá saber o que realmente almeja alcançar. Tenha bom senso. Tenha senso do ridículo. Ria de si mesmo. Ria dos outros. Mostre ao mundo que ninguém é melhor do que você, mesmo tendo a certeza que você não vale mais do que o cheiro da merda que seu vizinho acabou de pisar.

3 comentários:

Ana Lins disse...

Acho que você andou pensando naquele lance de que pensar enlouquece, hein.

;)

Miro disse...

curti seu texto, cara! achei pelas promoçoes do orkut, pra quem pensava que aquilo nao funcionava e nao prestava pra nada.
me indentifiquei com algumas coisas que voce disse, tambem ja pensei sobre isso, mas nao escrevi.

eu me expresso mais pela arte, sou designer gráfico. acho que a literatura e a arte em si estao conectadas, poderiamos fazer algum trabalho juntos, voce escreve, eu ilustro. que que voce acha?

dá uma olhada na minha arte:
http://felipezamana.carbonmade.com/

meu email é zama_89@hotmail.com, qualquer coisa.

abraço!

Anônimo disse...

Incrível a forma como você transformou meus pensamentos num texto prodígio. Simples e complexo, original e com uma ideia muito tradicional... Ficou muito bom mesmo!
Parabéns! Estou seguindo!