terça-feira, 30 de março de 2010

Babilônia (Parte 1)



Enquanto eu escrevia reparei que minha mão direita dava pequenos espasmos indicando algum trauma recente. Estava novamente no mesmo quarto, aquele mesmo da famosa inspiração. Sem esforço algum eu já havia decorado para tal ocasião, com duas ou três latas vazias da minha cerveja convencional, o cinzeiro recheado de bitucas de cigarros e uma agradável música completavam todo elemento. Roupas e acessórios fotográficos espalhados pelo pequeno quarto deixavam ainda mais confortável. Bom, o que faltava mesmo? Whisky? Whisky ou uísque? Que seja, estando ele em um belo copo de vidro com algumas pedras de gelo era o que importava. Mas havia esquecido que realmente estava faltando era uma história interessante.

Podia começar contado a história do bêbado no banheiro? Bêbados de novo. A natureza havia me chamado para a missão diária, só que infelizmente era noite de carnaval e eu estava em plena rua, longe de casa. Tive que apelar para um banheiro próximo da balsa, mesmo porque a casa onde eu estava era do outro lado da balsa. Se tinha uma coisa que eu amaldiçoava era isso, missão fora de casa. Mas se o dever o chama eu era um soldado intitulado “corajoso”. Conversava com os anjos ao estilo de Chico Xavier, que ele me perdoe por essa comparação, em meio ao silêncio aterrorizante que foi aos poucos sendo quebrado com o barulho da multidão bem ao fundo. Mas é claro que não ia durar muito, até o momento que me assustei com os passos apressados que entraram no banheiro. Continuei concentrado apenas levantando a cabeça e olhando sobre os óculos, com uma mão apoiando a cabeça, que estava pesada, e a outra em volta da cintura. Seja quem for agora tinha minha atenção.

O banheiro possuía apenas um Box, que diga-se de passagem já estava ocupado demais. Então dois pés pararam exatamente em frente à porta. Cheguei a uma rápida conclusão de que: Um, não era o saci porque tinha dois pés, e dois, que eram de um homem pois ali era um banheiro masculino (não tinha tal certeza porque na pressa...enfim!). Então ele bateu algumas vezes e fez a ridícula pergunta “se tinha alguém ali”. Não respondi, amizade era ultima coisa que eu queria no momento. Bateu mais algumas vezes, só que desta vez calado, e eu continuei quieto. Estava olhando o tênis em estado de decomposição quando ouviu o zíper da calça se abrir. Aí sim, um tal frio na espinha anunciava perigo eminente. Agora eu estava em posição de ataque, se o cidadão der um passo em falso ou pronunciar uma palavra errada eu iria tentar quebrar o pescoço dele.

Foi que então ouvi um barulho de liquido batendo sobre a porta de madeira do Box. Eis então que o artista faz sua obra de arte, demorei alguns segundos para acreditar no que aquele sujeito estava fazendo. Mijando na porta do meu banheiro, onde e quando havia sido tão bruscamente insultado. Tomei gosto pela comédia da vida, agora eu presenciava uma delas. Fiquei puto da minha cara na hora, dei um chute na porta. – Oh seu saco de merda! - O insulto o afetou tanto que o cidadão apenas me justificou tal ato com um arroto de bêbado e caminhou em direção a saída do banheiro. Então calmamente pulei a poça de mijo ao sair do banheiro e fui lavar as mãos. Olhei meu reflexo e ri de mim mesmo, pensando como eu consigo ser o maior imã de perturbados mentais que essa terra pariu.

Recheava meu caderno com esse tipo de história, mas as tais inspirações para um conto de arrancar suspiros encontrava-se na mesma distância que a neve encontra o deserto. Só que ao mesmo tempo me conforta saber que eu sou responsável por estar contando isso. Eu conto para as pessoas criarem um conceito de sociedade? Longe disso, o conceito já está criado. A questão é saber somente distinguir. Então mais uma vez fecho meu caderno, acendo o meu cigarro e me apoio sobre a janela, que batizei de TV da vida real.

3 comentários:

Vivian disse...

Perfeito!


Só acho uma pena a sua falta de inspiração para escrever "um conto de arrancar suspiros"...mesmo assim, continuarei esperando!

Beijoooos!!!Adoro vc!

Anônimo disse...

Esses caras q bebeme perdem a linha são fodas! hahahaa

Ana Lins disse...

Hahaha muito bom! Você conseguiu tirar todo um texto legal do simples fato de um louco ter demarcado seu território. :)